por Mamêtu Muiandê | Mãe Efigênia e Cássia Cristina | Makota Kidoialê
Revista Pise a Grama
Nesse texto, Mãe Efigênia conta uma pouco da história do bairro Santa Efigênia em Belo Horizonte, da sua história, da relação com o território e da origem do Quilombo Manzo Ngunzo Kaiango. Ela conta:
“Ganhei um terreno no Santa Efigênia de um fazendeiro que havia sido meu patrão e fiz dois cômodos de tijolo. Como eu não cobrava o atendimento, um me dava um tijolo, outro me dava uma telha. Ave Maria se você cobrar um centavo! Pai Bendito não aceita nem uma moeda! E não tem como pegar escondido dele. É de graça, ele pede que seja assim.
Fiz uma promessa para Nossa Senhora Aparecida, São Jorge e Pai Benedito que, se eu conseguisse um cantinho para morar com os meus filhos, todo mundo que batesse na minha porta eu atenderia. Todo mundo eu acolho, ponho num cantinho aqui da casa. Dei tanta casa que fiquei sem lugar para morar e tive que ir embora daqui.”
Sua filha Cássia Kidoiale também fala sobre a ancestralidade quilombola em contexto urbano e suas dificuldades enfrentadas institucionalmente, as burocracias, formas de controle, e de negligência do Estado com o espaço do Quilombo Manzo Ngunzo Kaiango:
“As escolas urbanas ainda são preconceituosas. Principalmente as do bairro Santa Efigênia, onde está localizado o Manzo, porque se trata de uma comunidade com características religiosas, que se identifica como povo de comunidades tradicionais de matriz africana.
Não abrimos mão disso, queremos ser reconhecidos dessa forma, e vamos carregar isso para a eternidade!
A educação precisa nos ver não como adoradores de nenhum Deus, mas como alguém que têm uma forma própria de viver.
Falar de educação é falar da sua forma de ver, de viver. Não tem como pensar que a educação é só na escola.”
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