Neste segundo semestre de 2024, ofereceremos três disciplinas pelo Programa de Formação Transversal em Saberes Tradicionais, veja a seguir.

As matrículas devem ser feitas nos dias 30 de setembro e 01 de outubro 2024 pelo Sistema SIGA da UFMG

https://www2.ufmg.br/drca/drca/Home/Graduacao/Matricula-de-estudantes-veteranos-as-de-graduacao/Cronograma-de-Oferta-e-Matricula-para-2024-2

1) Artes e Ofícios dos Saberes Tradicionais – Mulheres-Bioma Guerreiras da Ancestralidade

Código: UNI 050
Carga Horária: 90 h/a
Vagas: 60 (50 para estudantes indígenas FIEI e 10 para estudantes não-indígenas de toda a universidade)

Ementa
As mulheres indígenas são mulheres-sementes, mulheres-terra, mulheres-água, mulheres-fogo, mulheres-ar, mulheres-mato. Elas têm sustentado os mais vibrantes gestos nos movimentos indígenas no que diz respeito à justiça epistêmica em todas as suas dimensões: social, politica e cosmopolítica, ambiental. O respeito a todas as formas de vida e a todas as formas de existir vêm pautando ações-pensamentos que nos dão a ver e a sentir o quanto temos a aprender com as mulheres indígenas. No curso, aprenderemos com mulheres dos povos Pankararu, Kaiowá e Maxakali sobre seus respectivos biomas e lutas, sobre histórias-memórias inscritas num corpo-território que sabe porque vive e vive porque sabe. De acordo com o Manifesto Reflorestar Mentes, as guerreiras da ancestralidade nos interpelam: “Um grande chamamento que fazemos à humanidade, na tentativa de proporcionar a todos os povos do mundo uma nova forma possível de nos relacionarmos com a Mãe Terra, e também entre nós, seres que nela vivemos. […] Cuidar da Mãe Terra é, no fundo, cuidar de nossos próprios corpos e espíritos. Corpo é terra, floresta é mente. Queremos reflorestar as mentes para que elas se somem para prover os cuidados tão necessários com nosso corpo-terra

Mestras e assistentes
Mãe Dôra Pankararu
Terra Indígena Entre Serras de Pankararu – Bioma Caatinga – PE
Elisa Urbano Ramos | Elisa Pankararu – Assistente
Terra Indígena Entre Serras de Pankararu – Bioma Caatinga – PE
08 a 11/10
13h50 às 17h50
Estação Ecológica da UGMG

Noêmia Maxakali e Maiza Maxakali
Reserva Indígena Maxakali – Aldeia Verde – Bioma Mata Atlântica – MG
22/10 a 25/10
13h50 às 17h50
Estação Ecológica da UGMG

Roseli Aquino | Nhandesy Roseli​ e Jaqueline Porto | Jaque Aranduha
Terra Índigena Panambizinho Guarani-Kaiowa, Bioma Cerrado e Pantanal – MS

Professoras Parceiras UFMG
Luciana de Oliveira (DCS/FAFICH) e Vanessa Tomaz (DMTE/FAE)

2) Saberes Tradicionais – Cosmociências: Saberes Ancestrais Afrodiaspóricos – Circularidades Intergeracionais

Código: UNI 053
Carga Horária: 60 h/a
Vagas: 40

Ementa
A partir da trajetória e da atuação de Mãe Glória de Oxum e Alexandre Kasumlembe (Casa de Cultura Lode Apara), Mam’etu Muiandê e Makota Kidoiale (Kilombu-Terreiro Manzo Ngunzo Kaiango) junto às suas comunidades, o curso abordará os processos de transmissão oral dos saberes vinculados às cosmologias das duas casas de Candomblé Angola. Imanentes às práticas cotidianas e às relações com o sagrado sustentadas pelos territórios (terreiros e quilombos), os múltiplos saberes próprios das epistemes afrodiaspóricas, ao circularem continuamente entre as gerações – entre os mais velhos e os mais novos – concedem especial atenção aos jovens e às crianças (o que Makota Kidoiale chama de “afrobetização”).


Aulas às segundas-feiras, de 13:50 às 17:50, na Estação Ecológica da UFMG, no período de 7 de outubro a 16 de dezembro. Algumas aulas – a combinar – serão oferecidas no território das comunidades.

Cronograma
Abertura no dia 7 de OUTUBRO, na Semana de Comemoração dos 10 anos das Formações Transversais da UFMG.
OUTUBRO: 12 (sábado): Festa de Oxum na Casa de Cultura Lode Apara, (Santa Luzia – MG). Aulas com Mãe Glória de Oxum e Alexandre Kasumlembe nos dias 14, 21 e 28.
NOVEMBRO: Aula com Mãe Glória e Alexandre Kasumlembe no dia 4. Aulas com Mam’etu Muiandê e Makota Kidoiale nos dias 18 e 25 e evento/atividade no Manzo Ngunzo Kaiango (data a ser confirmada).
DEZEMBRO: Aulas com Mam’etu Muiandê e Makota Kidoiale nos dias 2 e 9.
16 de DEZEMBRO: Encerramento (com a participação das duas duplas).

Mestras e Assistentes
Mãe Glória de Oxum e Alexandre Kasumlembe (Casa de Cultura Lode Apara)
Mam’etu Muiandê e Makota Kidoiale (Kilombu-Terreiro Manzo Ngunzo Kaiango)

Professores parceiros
Janaína Barros (EBA)
Wagner Viana (EBA)


3) Saberes Tradicionais – Línguas e Narrativas: Língua, cultura e civilização yorúbá

Código: UNI 052
Carga horária: 45 h/a
Vagas: 40


Ementa
Minicurso básico e introdutório de língua, cultura e civilização yorubá-africanas. A língua Yorubá será estudada por meio da expressão através dos versos, encantamentos, ensinamentos e parábolas do saber revelado por Orunmilá, dentro da tradição de Ifá, considerado como a voz de Oludumare em benefício da criação. Ifá trata-se de um sistema que é a própria consciência cósmica do povo Yorubá. A língua Yorubá espalhou-se pelo mundo a partir do processo colonial no movimento diásporico do negro africano. No Brasil, muitas palavras e estruturas linguísticas de origem yorubá se misturaram às culturas afrodiaspóricas, seja nas práticas religiosas, ou mesmo na culinária e música. Conhecer essa língua tonal, de tradição oral é conhecer um pouco do legado histórico e cultural desse povo que é parte fundamental na constituição e afirmação da identidade afro-brasileira.

O programa do minicurso focalizará a aquisição de:

(i). aspectos linguísticos tais como alfabeto, números, vocabulário básico de uso cotidiano, acentos (àmì ohùn), leituras e jogos de gramática;
(ii). aspectos culturais tais como mitos e lendas da nação yorubá; tradição dos orixás e Odu Ifa, cânticos, heróis e heroínas da antiguidade yorubá: Oduduwa, Oranmiyan, Moremi.
(iii). aspectos civilizacionais tais como artes e artefatos, filosofia do povo yorubá: confecção e uso de
trajes tradicionais, simbolismos de cores e nomes próprios, arte culinária, os tabus, festas e carnavais
populares; os ritos de passagem – nascimento, casamento e morte.

Aula-inaugural. Introdução ao tema geral: “A África: seus povos, seu passado e seu presente”:
25 de novembro: 19h00 às 22h35.

Aula 1. História da Antiguidade yorubana: 26 de novembro: 13h50 às 17h50.
(A mito história da origem dos povos yorubanos)
(i). Òbàtàlá e Odùduwà nos mitos da criação de Ilé-Ife ̣ ̣
(ii). Ilé-Ife ̣ ̀ e a expansão dos príncipes yorubanos em Ita Ajero
(iii). Os reinos yorubanos em países visinho (Benim, Togo, Gana, etc)
(iv). Òrànmíyàn e a instituição das dinastias em Benin e Oyọ

Aula 2. Aspectos linguísticos e culturais: 28 de novembro: 13h50 às 17h50.
(i). A arte da saudação em yorubá
(ii). A filosofia “e kú…”
(iii). A senioridade na cultura yorubana.
(iv). O alfabeto yorubá e o uso da tonalidade (acentos
(v). As instituições culturais iorubanas (Orixás, egúngún, orò, ogboni)

Aula 3. Ami Ohùn – Tonalidade e o uso de acentos na língua iorubana. 03 de dezembro:
13h50 às 17h50.
Owo mi ree o!
(ii) Onkà Yoruba I e 2 – Os numerais em yoruba
(iii). Isirò – o gênio matemático yorubano

Aula 4. Aspectos culturais e civilizacionais. 05 de dezembro: 13h50 às 17h50.

(i). A família e o valor do indivíduo dentro da comunidade iorubana.
(ii). Os festivais culturais e religiosos (Olojo (Ògún em Ile-Ife; Oxum em Osogbo, Egungun em Oyo,
Xangô em Ede; Oxaguiã em Ifon Osun, etc. )
(iii). A ontologia de “Àse” (Axé).
(vi). A arte e a estética (música sagrada e profana, vestuários, gastronomia, etc.)

Palestra. Aspectos culturais e civilizacionais. 04 de dezembro: 13h50 às 17h50.

Avaliação – Apresentação de portfólio. 10 de dezembro: 13h50 às 17h50.

As aulas acontecerão no CAD2

MESTRE: Félix Ayoh’OMIDIRE
Ojùgbọ̀nà Awo no Templo Ifá Ogberosun em São Cristóvão,
Salvador, Bahia

PROFESSORA E PROFESSOR PARCEIROS
Janaina Barros Silva Viana/ Wagner Leite Viana

Biografias

Elisa Urbano Ramos | Elisa Pankararu

Terra Indígena Entre Serras de Pankararu – Bioma Caatinga – PE
No sertão de Pernambuco, entre os municípios de Tacaratu, Petrolândia e Jatobá, quase às margens do Rio São Francisco, surge a voz forte e resiliente de Elisa Urbano Ramos, uma mulher indígena do povo Pankararu. A ativista tem mais de uma década de engajamento em movimentos ligados ao campesinato, às causas indígenas, além dos direitos das mulheres e meninas. Elisa é mestra e doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco (PPGA-UFPE). Atualmente, é Coordenadora do Departamento de Mulheres Indígenas na Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME).

Com sua luta consolidada, é guardiã das tradições, uma defensora dedicada de seu território e uma educadora comprometida com as razões em que acredita. “Levar a minha voz em defesa dessas causas é um desafio em um universo racista. Mas minha alegria é levar a minha voz, e que a voz não seja apenas de Elisa, mas de todos os meus e as minhas. Convivi com mulheres parteiras, rezadeiras, curandeiras, puxadoras de rituais, caciques, pajés. Então são duas categorias extremas e que me chamam muita atenção. A primeira, por serem mulheres que têm uma voz tão forte e ouvida quanto a dos homens. E a segunda, que é a de subalternização. Como e por que as mulheres eram tratadas com diferença, injustiça e violência? Na minha inocência, eu não sabia por que diziam que as mulheres eram sujas. Eu entendia que sujo era quem não tomava banho. Passei a questionar por que usavam certas palavras, porque as atitudes de exclusão, de minimizar, de diminuição, de desvalorização. O entroncamento patriarcal que sequestra os nossos homens para trabalhar. E essa mazela do preconceito, da dissimulação do racismo, ela não atingiu, não violou e violentou apenas nossas mulheres e meninas, mas os nossos homens também. A nossa fala é negada por esses racistas! Essa invisibilização, não existência, ausência de nossas falas e negação da presença gera violência, ela é a violência. Então precisamos ocupar cada espaço. Eu sou a descendência da ancestralidade.”

Por indicação da convidada, adaptado de texto da série Akofena: Mulheres Negras e Indígenas em Defesa de Seus Territórios. Autora: Karla Souza.

Noêmia Maxakali

Reserva Indígena Maxakali – Aldeia Verde – Bioma Mata Atlântica – MG
Noemia Maxakali é uma mulher indígena do povo Tikmũ’ũn, também chamados Maxakali. Anciã com 70 anos, vive na aldeia Verde, localizada no município de Ladainha, no nordeste de Minas Gerais com sua família. Ela é uma mulher importante e respeitada na comunidade por sua força política, pelo seu grande conhecimento tradicional e seu intenso envolvimento no universo ritual. Ao longo de sua trajetória de luta pelo seu povo Noemia teve de transitar em diferentes ‘mundos’, o que confere a ela uma grande habilidade de mediação “entre mundos”. Toda a sua vida foi dedicada à luta pelos direitos do seu povo, à prática da sua cultura. Conhecedora do bioma Mata Atlântica, a memória do seu território ancestral é a base de seus ensinamentos, adquiridos exclusivamente na oralidade com seus antepassados, na espiritualidade. Noemia é mãe, avó e bisavó, mulher bioma guardiã dos saberes tikmũ’ũn, uma qualidade fundamental das mulheres tikmũ’ũn de espírito forte.

Maiza Maxakali

Reserva Indígena Maxakali – Aldeia Verde – Bioma Mata Atlântica – MG
Maiza Maxakali é mulher indígena do povo Tikmũ’ũn, também chamado Maxakali. Filha de D. Noemia, Maiza é mãe e avó. É professora na sua aldeia e possui Licenciatura em Formação Intercultural para Educadores Indígenas (FIEI-UFMG). Guarda a memória da educação escolar maxakali. Compartilha os saberes do universo das mulheres tikmũ’ũn, como as práticas de cuidado e de cura. Em sua casa, as mulheres estão sempre reunidas compartilhando saberes e produzindo os artesanatos. É mulher bioma, mestra na arte de fiar e enlaçar a tuthi – “fibra-mãe”, uma fibra vegetal, extraída da casca da planta embaúba, uma espécie encontrada na Mata Atlântica que as mulheres tikmũ’ũn enrolam delicada, mas firmemente, em suas coxas. A arte tikmũ’ũn de tecer a embaúba é de domínio feminino que, além de alimentar os vínculos entre os parentes vivos e os yãmĩyxop – povos-espíritos da floresta-, envolve a cooperação dos homens durante diversas etapas do processo produtivo.

Roseli Aquino | Nhandesy Roseli

Terra Índigena Panambizinho Guarani-Kaiowa, Bioma Cerrado e Pantanal – MS
Roseli Concianza Jorge
Nasceu no dia 08 de janeiro de 1960, na Terra Indígena Panambizinho. É filha de Arda Concianza e Adão Jorge Galeano, neta de Lauro Concianza e Dorícia Pedro e bisneta de Ramonita Pedro e Pa’i Chiquito, fundador da comunidade de Panambizinho. Casou-se com Waldomiro Aquino, neto de Paulito Aquino, em 1973, com quem teve sete filhos: Silvinho, Rose, Valdineia, Joelma, Josiane, Giovani e Sandro. Roseli é atualmente a pessoa mais engajada na promoção dos cantos rituais na Terra Indígena Panambizinho. Ela é uma das principais conhecedoras do ñevanga, ritual terapêutico baseado totalmente em palavras.

“Este ritual tem muito valor para as pessoas que entendem a cultura kaiowá. Agora sobre a influência dos novos profissionais da saúde que não conhecem a
cultura kaiowá, já são poucos os que confiam nela e nas demais terapias tradicionais”, queixa-se Roseli, que é uma estudiosa da reza longa se prepara-se para dirigir a reza no futuro. Ela é a principal herdeira de sua mãe, Arda e de seus avós, Lauro e Dorísia, e de seus bisavós, Ramonita e Pa’i Chiquito. Não frequentou a escola dos não indígenas, mas sim a escola dos saberes kaiowá, onde é uma excelente estudante. Ela e seu esposo são conhecidos pelo seu engajamento no âmbito da vida social e ritual. Roseli participou de diversas colaborações com acadêmicos, dentre elas, o Dicionário Kaiowá organizado por Graciela Chamorro, no qual atuou como fonte de pesquisa e tradutora do kaiowá para o português. Em suas palavras, o dicionário kaiowá “é uma herança que as gerações mais antigas estão deixando para as gerações mais novas, sendo uma necessidade contemporânea que acompanha a introdução da escrita, da leitura, da pesquisa acadêmica nas comunidades. Por indicação da mestra, biografia adaptada de CHAMORRO, Graciela. Dicionário Kaiowá. Belo Horizonte, Editora Javali, 2022.

Jaqueline Porto | Jaque Aranduha

Reserva Índigena de Dourados/Povo Guarani-Kaiowa, Bioma Cerrado e Pantanal – MS
Do povo Guarani Kaiowá, Kunã Aranduhá é do estado do Mato Grosso do Sul, dos biomas Cerrado e Pantanal. Seu nome não indígena é Jaqueline Gonçalves Porto e é mãe de Jajá.
Desde que nasceu, em 1990, Kunã já sente a violência contra seu povo Guarani Kaiowá, que foi retirado de seus territórios ancestrais nos anos de 1911 e 1912, começando um processo de revezamento, loteamento, privatização e venda de terras que culminou na criação de oito reservas indígenas que enfrentam superlotação. Kunã cresceu na Reserva Indígena de Dourados (MS), que sempre foi vista como o centro dos territórios do povo Guarani Kaiowá e tem um amplo histórico de violência e racismo contra a população indígena, principalmente contra mulheres indígenas. Fez graduação em Ciências Sociais e iniciou mestrado em Antropologia, ambos pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Sua pesquisa vincula-se à temática do combate à violência contra as mulheres indígenas Guarani Kaiowá.É uma das mulheres co-fundadoras da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), coordenadora da Kuñangue Aty Guasu, grande assembleia das mulheres Guarani e Kaiowá, e fundadora do Observatório da Kuñangue Aty Guasu.

“Minha família está toda lá e sofreu com o processo de retirada dos territórios, meu pai e minha mãe passaram muitos anos como funcionários de fazendeiros, não podiam nos ensinar nossa língua materna, era época da ditadura militar”. Ela viu seu pai e três irmãos serem assassinados e, aos 14 anos, saiu de casa para fazer sua luta pela questão territorial e buscar algum tipo de justiça. Aos 17 anos, começou a estudar na cidade, transitando entre ela e o território; e, há cinco anos, efetivamente vive no espaço urbano, não tendo local fixo por questão de segurança, já que sua casa foi invadida quatro vezes na aldeia e duas na cidade. Antes mesmo da promulgação da Constituição Federal de 1988, foi iniciado o processo de retomada dos territórios Guarani Kaiowá, que segue até hoje, porém sem garantia de que haverá demarcação. “Eu vejo esse processo que está acontecendo agora como um processo de retomada de tudo que nos pertence, mas de uma forma diferente. São 523 anos de invasão, de colonização, de dizimação. Esse investimento de entender um pouco mais em cima a política e de colocar pessoas à disposição e eleger representantes políticos tem sido uma forma da gente estar lá, da gente encaminhar sobre nós”. Kunã se identifica como mediadora desses processos e uma pessoa que está nos espaços de formação, fazendo os debates necessários. “Acho importante ressaltar que, apesar de estarmos vivendo um momento histórico, é preciso proteger as mulheres que estão nessa linha de frente, porque existe uma ferramenta muito grande de luta contra nós que é o mundo tecnológico do mundo branco. São mulheres que tiveram muito à frente da luta, estão muito machucadas. Se uma tombar, todas continuam, mas não queremos que mais nenhuma tombe”. Fonte: fornecida por Jaque Aranduha.

Mãe Glória de Oxum

Mam’etu Aparasile, também conhecida como Mãe Gloria, é Mam’etu dia Nkisi da Casa de Cultura Lode Apará, em Santa Luzia, MG, desde sua fundação em 1980. Responsável por preservar e transmitir os conhecimentos ancestrais, realizando rituais sagrados. Sua sabedoria e dedicação são fundamentais para a manutenção das tradições e a harmonia na comunidade de terreiro, Casa de Cultura Lode Apará.

Maria das Dores Silva Nascimento | Mãe Dôra Pankararu


Maria das Dores Silva Nascimento, conhecida como Mãe Dôra, é tida como uma das “portas para vida do Povo Pankararu”. Nascida em 12 de agosto de 1964, no Território Indígena Pankararu, no sertão do estado de Pernambuco, Mãe Dôra é uma importante liderança e parteira dessa comunidade indígena. Ela já perdeu as contas de quantas crianças foram amparadas por suas mãos. Os “filhos de umbigo”, como são chamados os bebês que vêm ao mundo com sua ajuda, se multiplicam e são provas vivas de um saber tradicional que quase desapareceu. Dôra, que iniciou auxiliando partos na adolescência, trabalha desde 1992 (formalmente desde 1995), no Posto de Saúde Indígena Pankararu, na Aldeia Brejo dos Padres, como técnica de enfermagem. Guarda com clareza a lembrança do primeiro parto que realizou aos 18 anos de idade. A criança que viria ao mundo era seu sobrinho, Ricardo. Massageou a barriga da cunhada e pediu em orações ajuda das parteiras que já se foram, suas guias. O menino nascera roxinho e não respirou de imediato. Em meio a cânticos tradicionais Pankararus, um sopro de vida encheu o pulmão do bebê que gritou, para alívio de todas.
Mãe Dôra sempre aliou seus conhecimentos tradicionais indígenas sobre saúde ao saber biomédico para curar e cuidar de seu povo, fazendo uma “Simbiose” como diz Dona Prazeres, parteira de Jaboatão dos Guararapes (também Patrimônio Vivo de Pernambuco). Além do saber técnico, soma-se à assistência prestada por Dôra a espiritualidade de seu povo. No quintal da parteira, há ervas para todo tipo de uso. Ela sabe que o domínio sobre essas plantas é precioso, e não compartilha o conhecimento sobre eles para qualquer um.. Tamanho cuidado é justamente uma forma de preservar os ritos da tradição de seu povo, assegurando que os tratamentos fitoterápicos não acabem sendo usados de forma indiscriminada sem o conhecimento necessário.
Mãe Dôra também costuma ser psicóloga de todos. É quase juíza, quase assistente social. “Faço de tudo um pouco”, diz. O ofício de parteira não se fecha na atuação durante a gestação parto e pós-parto, mas se estende ao cuidado com toda a família fazendo uso de práticas específicas bem como de conhecimentos acerca de plantas e ervas aprendidos com os mais velhos e repassados aos mais jovens. Mantendo e transmitindo as tradições da etnia, Dôra é responsável pela inserção e formação de novas mulheres no ofício às quais chama de aprendizes. Sua atuação vem ajudando as mulheres Pankararu a voltarem a ter filhos em seus lares, reforçando a identidade indígena e promovendo a valorização dos saberes. A importância do reconhecimento e do fomento da atividade em vida de mestras como Dôra é aspecto crucial para o fortalecimento de sua atuação. Salvaguardar esse saber empírico, construído por mulheres, o conhecimento sobre seus corpos e seus processos, conhecimento amadurecido a partir de observação de outras mulheres e a gama de situações que podem ocorrer durante o parto.
Uma ciência tradicional que recepciona e salva vidas há séculos. A parteira é detentora de um conhecimento de dimensão holística e profunda. Está associado ao afeto, ao cuidado, possui conexão com o tempo, com a natureza, com a memória. O corpo feminino foi muito mais alvo de investigação científica do que o masculino. Partejar não era tipo como um procedimento médico, era de foro íntimo, de domínio das parteiras e das mulheres da família. O homem não fazia parte desse processo, não faziam nem eram bem vindos. A partir do século XVII as parteiras passam a ser marginalizadas, o corpo feminino começa a ser medicalizado, e, com a profissionalização da ciência e da medicina a coisa muda de figura, colocando os homens da ciência formal sob o domínio do procedimento, excluindo a própria mãe do circuito. Mulheres como Mãe Dôra devolvem às suas pares o protagonismo sobre o próprio parto, devolvem o afeto, o cuidado, e a atenção que dificilmente se encontra em hospitais e maternidades, públicas ou privadas.

Fonte: https://www.cultura.pe.gov.br/pagina/patrimonio-cultural/imaterial/patrimonios-vivos/mae-dora-maria-das-dores-silva-nascimento

Alexandre Kasumlembe

Tata Kasulembe, também conhecido como Alexandre Sousa da Silva, é Tata Kambondo e Xicarangoma na Casa de Cultura Lode Apará, em Santa Luzia, MG, onde atua desde 1996. Fundador da página Tata Kasulembe, promove a cultura Kongo-Angola no Brasil, compartilhando conhecimentos tradicionais e incentivando a valorização das religiões da diáspora africana.

Mam’etu Muiandê

Mãe Efigênia, mais conhecida como Mametu Muiandê, com mais de cinquenta anos de santo na Umbanda e trinta anos de “despertamento” de sua Inquice Matamba no Candomblé, é matriarca e liderança máxima da comunidade fundada por ela há cerca de quarenta anos, o Kilombo-Terreiro Manzo Ngunzo Kaiango, que obteve o certificado de auto-reconhecimento em 2007.

Makota Kidoiale

Registrada como Cássia Cristina da Silva, é filha de Mametu Muiandê (Mãe Efigênia) e liderança e educadora do Kilombo-Terreiro Manzo Ngunzo Kaiango. Tem destacada atuação nas lutas em defesa das comunidades quilombolas e de terreiro e junto à Formação Transversal em Saberes Tradicionais da UFMG.

Félix Ayoh’OMIDIRE

Félix Ayoh’OMIDIRE é Professor Titular de línguas, culturas e literaturas franco-luso-afro-brasileiras e afro-latino-americanas na Obafemi Awolowo University, Ile-Ife, Nigéria, onde ele foi também Diretor do Instituto de Estudos Culturais (Ilé Irúnmọlè) de 2017 a 2022. Possui Licenciatura e Mestrado da mesma IES, e Especialização em Português, Língua Estrangeira pela Universidade do Porto, Portugal (1998). Possui ainda outra Especialização em Metodologia do Ensino da Língua Francesa e Literatura Africana de Expressão Francesa pela Université Nationale du Bénin, (CEBELAE/UNB) Cotonou (2001). Recebeu o título de Doutor em estudos literários, culturais e étnicos afro-brasileiros pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 2006. De 2002 a 2006, foi professor e coordenador do curso de língua, cultura e civilização yorubanas no Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO/UFBA). Desde 2008, coordena o Posto Aplicador do exame para obtenção do Certificado de proficiência em língua portuguesa para estrangeiros (CELPE-BRAS) do Ministério de Educação (MEC/INEP) para a Nigéria e os países vizinhos da África Ocidental. Atua também como consultor para diversas agências e ministérios brasileiros na implementação da Lei 10.639/03. De 2018 a 2022 foi Professor Visitante no Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura da UFBA. No momento, ele é Professor Visitante de Estudos da Diáspora Afro-Latino- Americana na Humboldt-Universität em Berlim, Alemanha.
Félix Ayoh’OMIDIRE é pesquisador sênior da Fundação Alexander von Humboldt e da Agência DAAD (Alemanha), e membro do Conselho Científico do Museu Internacional do Vodum em Porto Novo, sob a presidência da República do Bénim. Ele foi idealizador da teoria literária conhecida como YoruBaianidade e do conceito da Oralitura nagô-yorubana que discutem a ontologia e epistemologia yorubá-africanas como elemento basilar na construção da identidade cultural nas sociedades afro-latino-americanas tais como Brazil, Cuba, Trinidad e Tobago, Colombia, Puerto Rico, Haiti, Venezuela e EUA. Essa teoria foi amplamente defendida em suas palestras e pesquisas apresentadas nos mais diversos contextos em vários países nos 5 continentes. Desde 2019, idealizou em parceria com pesquisadores da UFBA dentro do projeto de pesquisa Yorubantu o ensino de Yorubá como língua de herança cultural, atuando como Orientador Pedagógico para o curso de extensão oferecido pelo Núcleo Permanente de Pesquisa e Ensino em Letras (NUPEL), onde construiu a série de obras didáticas intituladas Èkó Dára! Curso de língua e cultura yorubá publicada em 3 volumes.
No âmbito religioso, destaca-se o papel que professor Félix vem tendo no espaço da Diáspora yorubana no desenvolvimento, preservação e divulgação da cultura religiosa yorubana hoje popularmente chamada de Ìṣèṣ̣e Làgbà, em países como Brasil, Cuba, Trinidad, Venezuela, EUA, Portugal e Alemanha, com exercício do sacerdócio qualificado enquanto babalawo de Ifá, com cargo confirmado de Ojùgbònà Awo no Templo Ifá Ogberosun da Bahia localizado no bairro de São Cristóvão, Salvador.
Desde 2003, presta serviços de assessoria em língua e cultura e tradução nagô-iorubanas para produtoras de cinema, documentários, museus e autores. É tradutor profissional de yorubá, inglês, francês, português, espanhol e italiano.
Félix Ayoh’OMIDIRE é autor de 20 livros e mais de 100 artigos científicos na área de literatura e de estudos culturais e étnicos afro-latino-americanos. Dentre as suas obras destacam-se:

ÀKÓGBÁDÙN: ABC da língua, cultura e civilização iorubanas. Salvador : EDUFBA / CEAO, 2004.
PÈRÈGÚN e outras fabulações da minha terra (contos cantados iorubá-africanos). Salvador : EDUFBA, 2006. + CD (iii). Multiculturalismo, desenvolvimento e a luta pela plena cidadania dos Afrodescendentes em América Latina e no Caribe. Lagos: Concept Publications. 2012
Peregun y otras fabulaciones de mi tierra. Traducción al español Rodolfo Alpízar Castillo. La Habana: editorial Arte y Literatura. Cuba, 2015.
Oxente! Viva o português brasileiro. Edição Atualizada e Ampliada. Lagos: FOBEH Publishers. 2016. (vi). Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come: A Poetics of Becoming across the Waters of the Negro Atlantic. Lagos: FOBEH Commercial Enterprises. 2017.
(vii). Èkó Dára! Curso de Língua e Cultura Yorubá. Livros 1 a 3. Salvador – Segundo Selo, 2020 – 2022 (viii). YoruBaianidade: Oralitura e matriz epistêmica nagô na construção de uma identidade afro-cultural nas Américas, Salvador: Segundo Selo, 2020.
(ix). Yoruba Beyond Borders – Orality, Identity and Cultural Diplomacy in 21st Century Global African Studies (A Festschrift in Honour of the late Professor and Ambassador Olabiyi Babalola Yai). Lagos: UNILAG Press, 2023.
x).¡Soy loco por ti America! Afro-descendants in Latin America and the Caribbean – Diaspora, Identity, Creativity and Citizenship under the Myth of Racial Democracy. Heraugegeben von der Humboldt-Universität zu Berlin. 2024. DOI: 10.18452/28092, Permanent URL: https://doi.org/10.18452/28092.

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