Terra Indígena Entre Serras de Pankararu – Bioma Caatinga – PE
No sertão de Pernambuco, entre os municípios de Tacaratu, Petrolândia e Jatobá, quase às margens do Rio São Francisco, surge a voz forte e resiliente de Elisa Urbano Ramos, uma mulher indígena do povo Pankararu. A ativista tem mais de uma década de engajamento em movimentos ligados ao campesinato, às causas indígenas, além dos direitos das mulheres e meninas. Elisa é mestra e doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco (PPGA-UFPE). Atualmente, é Coordenadora do Departamento de Mulheres Indígenas na Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME).

Com sua luta consolidada, é guardiã das tradições, uma defensora dedicada de seu território e uma educadora comprometida com as razões em que acredita. “Levar a minha voz em defesa dessas causas é um desafio em um universo racista. Mas minha alegria é levar a minha voz, e que a voz não seja apenas de Elisa, mas de todos os meus e as minhas. Convivi com mulheres parteiras, rezadeiras, curandeiras, puxadoras de rituais, caciques, pajés. Então são duas categorias extremas e que me chamam muita atenção. A primeira, por serem mulheres que têm uma voz tão forte e ouvida quanto a dos homens. E a segunda, que é a de subalternização. Como e por que as mulheres eram tratadas com diferença, injustiça e violência? Na minha inocência, eu não sabia por que diziam que as mulheres eram sujas. Eu entendia que sujo era quem não tomava banho. Passei a questionar por que usavam certas palavras, porque as atitudes de exclusão, de minimizar, de diminuição, de desvalorização. O entroncamento patriarcal que sequestra os nossos homens para trabalhar. E essa mazela do preconceito, da dissimulação do racismo, ela não atingiu, não violou e violentou apenas nossas mulheres e meninas, mas os nossos homens também. A nossa fala é negada por esses racistas! Essa invisibilização, não existência, ausência de nossas falas e negação da presença gera violência, ela é a violência. Então precisamos ocupar cada espaço. Eu sou a descendência da ancestralidade.”

Por indicação da convidada, adaptado de texto da série Akofena: Mulheres Negras e Indígenas em Defesa de Seus Territórios. Autora: Karla Souza.