Reserva Índigena de Dourados/Povo Guarani-Kaiowa, Bioma Cerrado e Pantanal – MS
Do povo Guarani Kaiowá, Kunã Aranduhá é do estado do Mato Grosso do Sul, dos biomas Cerrado e Pantanal. Seu nome não indígena é Jaqueline Gonçalves Porto e é mãe de Jajá.
Desde que nasceu, em 1990, Kunã já sente a violência contra seu povo Guarani Kaiowá, que foi retirado de seus territórios ancestrais nos anos de 1911 e 1912, começando um processo de revezamento, loteamento, privatização e venda de terras que culminou na criação de oito reservas indígenas que enfrentam superlotação. Kunã cresceu na Reserva Indígena de Dourados (MS), que sempre foi vista como o centro dos territórios do povo Guarani Kaiowá e tem um amplo histórico de violência e racismo contra a população indígena, principalmente contra mulheres indígenas. Fez graduação em Ciências Sociais e iniciou mestrado em Antropologia, ambos pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Sua pesquisa vincula-se à temática do combate à violência contra as mulheres indígenas Guarani Kaiowá.É uma das mulheres co-fundadoras da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), coordenadora da Kuñangue Aty Guasu, grande assembleia das mulheres Guarani e Kaiowá, e fundadora do Observatório da Kuñangue Aty Guasu.
“Minha família está toda lá e sofreu com o processo de retirada dos territórios, meu pai e minha mãe passaram muitos anos como funcionários de fazendeiros, não podiam nos ensinar nossa língua materna, era época da ditadura militar”. Ela viu seu pai e três irmãos serem assassinados e, aos 14 anos, saiu de casa para fazer sua luta pela questão territorial e buscar algum tipo de justiça. Aos 17 anos, começou a estudar na cidade, transitando entre ela e o território; e, há cinco anos, efetivamente vive no espaço urbano, não tendo local fixo por questão de segurança, já que sua casa foi invadida quatro vezes na aldeia e duas na cidade. Antes mesmo da promulgação da Constituição Federal de 1988, foi iniciado o processo de retomada dos territórios Guarani Kaiowá, que segue até hoje, porém sem garantia de que haverá demarcação. “Eu vejo esse processo que está acontecendo agora como um processo de retomada de tudo que nos pertence, mas de uma forma diferente. São 523 anos de invasão, de colonização, de dizimação. Esse investimento de entender um pouco mais em cima a política e de colocar pessoas à disposição e eleger representantes políticos tem sido uma forma da gente estar lá, da gente encaminhar sobre nós”. Kunã se identifica como mediadora desses processos e uma pessoa que está nos espaços de formação, fazendo os debates necessários. “Acho importante ressaltar que, apesar de estarmos vivendo um momento histórico, é preciso proteger as mulheres que estão nessa linha de frente, porque existe uma ferramenta muito grande de luta contra nós que é o mundo tecnológico do mundo branco. São mulheres que tiveram muito à frente da luta, estão muito machucadas. Se uma tombar, todas continuam, mas não queremos que mais nenhuma tombe”. Fonte: fornecida por Jaque Aranduha.