Organizadores
César Geraldo Guimarães
Flávio Henrique de Oliveira Santos
Maria Carolina Fenati
Este livro é parte do projeto Jardins do Sagrado: cultivando insabas que curam, realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte e pela Universidade Federal de Minas Gerais. Estão reunidos textos de mestras e mestres de comunidades tradicionais afro-brasileiras e indígenas, a saber: Babalorixá Sidney d’Oxóssi, Darupü’üna, Humbono Misiò Luiz Fernando, Mam’etu Muiandê, Pai Ricardo, Tat’etu Jalabo, Toá Canynã Pankararu, Iyá Ewé Angela Gomes, Yalorixá Ione Ty Oyá. Estes textos foram produzidos através de entrevistas, posteriormente transcritas e editadas. Para além dos textos, estão reunidos também fotografias das mestras e dos mestres, e breves textos da equipe.
SOBRE O LIVRO
por André Brasil
De um jardim se cuida. E, ao cuidar, se é cuidado. Jardins, no plural: há vários modos de cuidar e de ser cuidado. Que sejam jardins do sagrado nos leva além do que se vê (ou a outras formas do ver), ligando fazeres cotidianos a relações, também cotidianas, com inquices, orixás e encantados das tradições afro-indígenas no Brasil. Com sua seiva (seu sangue), as folhas são também vínculos: elas transportam e transformam a força vital que alimenta as existências e o que acontece entre elas.
A força e a precisão das palavras de mestras e mestres de comunidades tradicionais traçam relações que tecem os jardins do sagrado e que entretecem visível e invisível; ancestralidade, contemporaneidade e porvir; natureza e sociedade; cuidado com o vegetal e ética de vida em comunidade.
Esta publicação é também parte das ações que visam garantir, no espaço excludente da cidade, o cuidado com as folhas que sustentam a relação com o sagrado e os modos de vida de terreiros de axé, quilombos e comunidades indígenas. É, portanto, também sobre maneiras de resistir e persistir apesar da especulação imobiliária, das políticas públicas submissas a privilégios de classe, do racismo e da intolerância religiosa que estreitam os territórios onde praticam o sagrado. Estes, sabemos em contrapartida, são os que se mostram mais acolhedores e ciosos com a natureza. A exclusão de saberes e práticas tradicionais está na origem e na atualidade da cidade, mas existir nela, para as populações periféricas, depende da resiliência desses saberes e dessas práticas.
Nascidas do exercício de escuta e transcriação, as palavras deste livro vêm de longe, são saberes que se transmitem e se reinventam na experiência – um canteiro, um quintal, um espaço comunitário, um parque, uma mata, com folhas das quais se sabem o nome, o momento adequado de catá-las, os modos de encantá-las, os manejos e as receitas. São ainda palavras de reivindicação, para que esses modos de existência junto ao sagrado tenham direito e condições de serem cultivados na cidade. As palavras demandam uma escuta que reverbere em ações, no âmbito íntimo e também institucional.
Neste livro, as várias maneiras de vivenciar os jardins do sagrado têm sua origem e endereçamento no coletivo. Elas produzem coletividades: bichos, espíritos, gente, folhas, terra, água e vento. Essa trama de coletivos mais que humanos inventa possibilidades de reencantamento do espaço urbano, tão urgentes para a saúde das pessoas que moram nas cidades quanto generosamente praticadas pelas tradições afro-indígenas.
por Dolores Orange
Os retratos que compõem este livro foram feitos em agosto de 2023, com a câmera Hasselblad 503cx e filmes Kodak Gold 200, na casa, no terreiro ou na aldeia de cada mestre.
01_ Tat’etu Jalabo | 02_ Mam’etu Muiandê | 03_ Toá Canynã Pankararu |
04_ Yalorixá Ione Ty Oyá | 05_ Babalorixá Sidney d’Oxóssi | 06_ Humbono Misiò Luiz Fernando |
07_ Darupü’üna | 08_ Iyá Ewé Angela Gomes | 09_ Pai Ricardo |
Leia um trecho do livro a seguir:
Jardins-do-Sagrado-site-degustacao