Capitã da Guarda de Massambique de Nossa Senhora das Mercês de Oliveira, MG
Disciplina
Catar folhas: saberes e fazeres do povo de axé (2016.1)
Mestra Pedrina de Lourdes Santos é reconhecida como pesquisadora com grande conhecimento em cantos e oralidade em línguas africanas de matriz banto, em história e cultura afro-brasileiras, sobretudo, no que se refere às artes rituais do Reinado de Nossa Senhora do Rosário, e como pensadora negra sobre relações étnico-raciais.
O Reinado de Nossa Senhora do Rosário, também conhecido como Congado, é um complexo sistema de artes e saberes negros ligados especialmente à devoção à Nossa Senhora do Rosário (mas também à Nossa Senhora das Mercês, São Benedito, Santa Efigênia e Nossa Senhora Aparecida), que envolve grupos de músicos (executores de violas, tambores, pandeiros, chocalhos, patangomes, gungas, entre outros) e dançantes, especializados em uma performance ritual singular. Estes grupos são ternos ou guardas de moçambiques, congos, catopês, marujadas, e caboclos que fazem referência a grupos étnicos arquetípicos da colonização brasileira, especialmente no que se refere ao ‘mito das três raças’. Constitui também o complexo do Reinado uma corte de reis congos relacionada com a memória dos antigos reinos da África decompostos pelo tráfico de escravos e recompostos, apesar da diáspora e como forma de resistência, num esforço excepcional de recriação da socialidade negra nas Américas escravistas.
Nascida no município de Oliveira, a 150 quilômetros a sudoeste de Belo Horizonte, Minas Gerais, Mestra Pedrina começou a dançar e tocar na Guarda de Massambique de Nossa Senhora das Mercês (fundada em 1964) aos 11 anos de idade, quando seu pai, Capitão Leonídio dos Santos, não conseguiu reunir número suficiente de homens para compor a guarda de massambique (também conhecido como moçambique) e permitiu que ela e outras jovens saíssem no grupo que tradicionalmente restringia a participação de mulheres. Desde então, Pedrina especializou-se nas artes de canto e dança do Reinado, na história e na cultura afro-brasileiras. Com a morte do pai em 1980, assumiu com um irmão a capitania do grupo, sendo considerada uma das primeiras mulheres capitãs de uma guarda de massambique, de que faz parte há 42 anos.
Apesar das dificuldades que encontrou por ser mulher numa manifestação que tradicionalmente privilegia a liderança masculina, Mestra Pedrina é reconhecida dentro e fora de Minas Gerais. Ministra cursos e palestras, e coordena ações culturais e grupos de trabalho relacionados com os saberes de matriz africana e afro-brasileira cujo ensino foi tornado obrigatório pela Lei 10.639/03. Esse reconhecimento levou Pedrina e sua guarda, em 2005, a participar do Ano do Brasil na França, presentificando a cultura mineira no contexto internacional. Em 2006, ela recebeu a “Medalha Tiradentes”, concedida pelo governo do estado a pessoas que contribuíram para o prestígio e a projeção de Minas e do país e no mundo. A Mestra também participou como palestrante e oficineira no Seminário África Diversa no Rio de Janeiro e no Festival de Inverno da UFMG em 2012,2013 e 2014, atuando também como curadora do evento em 2013.
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